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As origens da actual freguesia de Nogueira da Regedoura remontam, segundo os registos mais antigos ao ano de 1037, anterior, portanto, à própria nacionalidade. Várias referências lhe são feitas no Sec. XI, indicando a sua situação corográfica.
Num documento entre particulares, em 1086 pode ler-se: «in uilla nogeira de ecclesiola (1) (…) subtus monte sagitella discurrente fonte de Froila cam in suburbio ciuitatis sancte marie territorio portugalensi» ou seja, e abreviando, «Nogueira de Grijó».O Padre Miguel de Oliveira no seu trabalho «Igrejas das Terras de Santa Maria, no ano de 1320» refere os vocábulos Rigeira, Regedoura, Rugidoira, Regedoira, e, ainda, Regedores por falsa paronímia (semelhança gráfica) e da influência psíquica de «Regeri» que significa «governar» ou «reger».
O nome «Regedoura» conserva-se num Lugar da vizinha freguesia de Grijó. Sabendo-se que, em latim, a sílaba «ou» tem o significado de «água» ou, mais vagamente «rio», poder-se-ía supor que «Regedoura» seria uma povoação atravessada por um rio, regato ou ribeiro. Mas é uma suposição, não existindo absoluta certeza de tal relação.
Sabe-se ainda que a Pousadela de hoje (lugar de Nogueira da Regedoura), com a denominação de Pousada, surge no reinado de D. Dinis. Porém, encontrava-se separada de Nogueira da Regedoura. Por inquirição mandada efectuar por D. Dinis a propósito das localidades que pagaram ou não pagaram portagem, lê-se: «Sam Xfonam (2) de Nogueira e no lugar que chamam Pousadela» . Isto passa-se em 1288. A actual Pousadela aparece nos documentos medievais associada a Anta por razões não totalmente esclarecidas.
Fosse como fosse, a verdade é que Nogueira da Regedoura esteve historicamente ligada às Terras de Santa Maria e, administrativamente ao seu Concelho. Curiosamente, houve um período em que tal não se verificou. No século passado, aparecia-nos Nogueira da Regedoura, Espinho e outras localidades, dependentes administrativamente do Concelho da feira. Com o polémico processo de desanexação de Espinho do Concelho da Feira entre Fevereiro de 1889 e Outubro do mesmo ano, viu-se Nogueira temporariamente dependente do recém-criado Concelho de espinho, do qual viria a desvincular-se em 19 de Abril de 1928, pelo Dec- lei nº 15395, de 19/4, ficando novamente a pertencer ao Concelho de Santa Maria da Feira.
A Paróquia de Nogueira da Regedoura confunde-se nas suas delimitações geográficas com a própria freguesia por razões sócio-históricas que têm que ver com a gênese dos povoados primitivos, fortemente subsidiária dos padrões da organização eclesiástica, como é natural, dada a ilustração do clero.
Nucária da Rugidoira foi um Curato da Congregação dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista da Vila da Feira (Cónegos Loios, antigamente designados por «Cónegos Azuis» por ser esta a côr do hate dos seus frades) e, mais tarde, abadia. A título de curiosidade refira-se que, em 1875 o cura da altura recebia 70 reis de rendimento, afora outras benesses.
O orago da paróquia é S. Cristóvão, pertencendo aquela à Diocese do Porto.
Presume-se que ao longo destes séculos o povo de Nogueira da Regedoura não se afastasse muito dos padrões de vida próprios de uma localidade rústica onde a vida decorria em condições severas e difíceis em meio de um trabalho penoso e insano de agricultores e artesãos. Sabe-se que o artesanato assentou aqui arraiais, conhecendo algum fulgor a partir dos fins do Sec. XIX até meados do Sec XX, através das tecedeiras que carregavam à cabeça em direcção ao Porto as suas teias coloridas, de algodão saídas de teares ancestrais. No regresso as tecedeiras traziam novamente à cabeça as tramas e fios para urdir as novas teias.
Havia por essa altura na freguesia vários moínhos rústicos bem como uma fábrica de telhas que adquiriu fama em todo o país por volta dos séculos XVI e XVII.
Para fabricar papel de embrulho existiu aqui um engenho artesanal. Esse papel servia para o fabrico de sacos de papel que gerou especialistas que se chamaram saqueiras. Existiram também aqui fabricantes de bombas artesanais de tirar água dos poços. As mulheres de Nogueira, as «rachonas», eram conhecidas pelo seu destemor e engenho para subirem aos pinheiros e arrancarem as pinhas com um bicheiro, as quais eram utilizadas para combustível para cozedura do pão. Os serradores e rachadores de Nogueira trabalhavam de sol a sol, transformando eucaliptos e pinheiros em traves, barrotes, ripas e tábuas usados na construção de casas e mobílias. Eram peritos no fabrico do «fasquio», que era utilizado na construção de paredes e tectos. Existiam ainda artistas que construíam carros de bois e canastros ou espigueiros.
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1 Ecclesiola: pequena igreja ou igrejol à volta da qual nasciam as pequenas comunidades, muitas das quais originaram o essencial das paróquias de hoje.
2 Sam Xfonam: São Cristóvão